Exmo.Sr.Dr.Rui Rio,
Na sequência da entrevista apresentada na passada segunda-feira na RTP1, onde V. Ex.ª se mostrou disponível para apoiar os grupos de Teatro da cidade do Porto - não em subsídios a fundo perdido, mas sim pelo pagamento de uma sala para apresentação dos seus trabalhos - vimos solicitar a V. Ex.ª o apoio para o aluguer de uma sala de teatro, nesta cidade, para a realização de 2 semanas de ensaios e montagem e 6 semanas de apresentação de espectáculos e, ainda, o aluguer de um espaço de ensaios durante 6 semanas.
Caso desconheça o nosso trabalho, mais informo que a nossa última representação - Armadilha para Condóminos - esteve em cena um mês, tendo cumprido 17 representações, que foram vistos por 2.276 pessoas (lotação média de 133 pessoas por dia, 76% de ocupação da sala). A temporada rendeu 12.374 euros. Valor, infelizmente, ainda assim insuficiente para pagar todos os custos de produção, uma vez que estes foram de 15 mil euros e que metade da receita, por contrato, pertencia ao teatro de acolhimento. Não sendo um grupo apoiado - nem pelo Estado central, nem pelo autárquico - apenas tivemos o apoio de duas empresas privadas que nos facultaram gratuitamente alguns dos materiais que eram necessários para a cenografia.
Apesar dos últimos 7 dias de representação terem tido a lotação esgotada e haver ainda muita gente que gostaria de pagar para ver o trabalho que produzimos, por compromissos já assumidos pelo teatro onde nos encontrávamos, foi de todo impossível prolongar a temporada.
Assim, para o nosso próximo trabalho pensamos que o ideal seria apostar numa temporada mais intensa e para um universo maior de possíveis espectadores. Uma temporada de 5 espectáculos semanais ao longo de 6 semanas num universo possível, atendendo à capacidade da sala em questão, de 11.820 espectadores.
Penso que, com estes universos de possíveis espectadores, será viável, e necessário, investir um pouco mais na qualidade de cenários, adereços, número de actores em palco e divulgação. Pelo que estimo que o custo da próxima produção poderá rondar os 30 mil euros, investimento que penso ser recuperável nas receitas de bilheteira, evitando assim a subsídio-dependência que V. Ex.ª. critica.
Mais informo V. Ex.ª que o preço aproximado de aluguer da sala será de 68.600 euros (quase de 14 mil contos), infelizmente o mais do dobro do custo da própria produção. Quase o dobro dos apoios que a Câmara Municipal do Porto pensou em dar ao Fazer a Festa e à Fundação Eugénio de Andrade. O dobro do que o Fantasporto espera receber da Câmara Municipal do Porto para a sua próxima edição. Seis vezes o que foi atribuído ao Festival Internacional de Marionetas e mais do dobro do atribuído ao FITEI.
Basicamente são 68% do valor que V.Ex.ª investiu em subsídios a fundo perdido às iniciativas culturais da cidade. Mas estou seguro que quando avançou com a solução de pagar a sala e não de dar subsídios a fundo perdido pensou antes de falar e fez as contas.
É de salientar que o valor referido inclui - além do aluguer da sala de espectáculos, sala de ensaios e do material técnico - o custo de quatro técnicos (um técnico de som, um técnico de luz, um maquinista e um director de cena) para acompanhamento de ensaios e temporada.
Sei, evidentemente, que o preço é elevado - principalmente se considerarmos a complicada crise que o país atravessa. Infelizmente, o proprietário da sala não me parece sensível a esses argumentos, uma vez que este é já o preço praticado para entidades sem fins lucrativos.
Felizmente que, com o apoio que V. Ex.ª não deixará seguramente de atribuir a este projecto, será possível manter os preços dos bilhetes num valor médio de 5 euros (contado com um ocupação média de 50%) e não ter que cobrar um preço médio de 16 euros e 60 cêntimos o que tornaria o teatro um artigo de luxo, não compatível com a bolsa da maioria dos portuenses.
Mais informo que a sala de espectáculos e a sala de ensaios que pretendemos alugar são do Teatro do Campo Alegre, pertença da Fundação Ciência e Desenvolvimento, entidade composta pela Câmara Municipal do Porto e pela Universidade do Porto. Infelizmente são estes os preços praticados por aquela que V. Ex.ª considera a segunda sala de teatro que a câmara tem para oferecer à cidade, e que se tornará na única quando, e se efectivamente for, privatizada a gestão do Rivoli.
Caso V. Ex.ª tenha conhecimento de uma outra sala de teatro equipada e pronta a acolher o nosso projecto, numa temporada longa, e que fique mais económica para o erário público, teremos muito gosto em estudar a viabilidade de nela apresentar o espectáculo. Nós, que conhecemos bem a realidade cultural da cidade do Porto, infelizmente não conhecemos nenhuma na cidade.
Aguardando deferimento.
Atenciosamente,
Ricardo Alves
(Director do Teatro da Palmilha Dentada)
19 comentários:
Pessoal da palmilha,
Posso desde já afirmar que foi com gaudio que, ao fazer uma pequena pesquisa no google sobre o meu nome, Rui Rio, me deparei com este belíssimo texto da autoria de um senhor Ricardo Alves.
Devo confessar que gostei de ler o que tem para me dizer. Quero dizer-lhe também que, afim de poupar gastos, decidi dar deferimento a esta proposta através da net, como eu gosto de lhe chamar porque gasto menos em caractéres.
Aquilo que eu lhe proponho é que apresente essa proposta a algum presidente camarário, com um mínimo de decência e discernimento, pois daqui não levam nada.
Mais a mais, a unica coisa que eu gosto de ver em teatro, é uma série de pessoas a passarem frio e fome, para supostamente reevendicarem um direito só delas, encho a barriga de riso com isso,lol. Espero que tenha gostado deste meu deferimento.
Com alguma atenção, porque no poupar é que está o ganho, envio-lhe alguns dos melhores comprimentos, não os quero gastar logo todos.
Rui Rio
(atleta federado pelo CDUP na modalidade de atletismo)
Caro Rui Rio (atleta federado)
Apenas uma dúvida me avassala, qual a modalidade de atletismo que pratica? Corrida de fundo, fugas para a frente, salto em altura ou salta para longe daqui?
Caro Ricardo Alves,
Considero o vosso trabalho louvável a bem da cultura em Portugal, mas compreenderá que nos regemos por uma lógica de mercado e segundo essa lógica as produções são feitas para gerar receita. Se a receita prevista por uma produção não irá cobrir os custos deverá ser abandonada como é prática corrente no mundo empresarial.
No entanto, estou a lembrar-me de bastantes espectáculos culturais de produção estrangeira que geraram lucros, dizem-me que até assinalável e no campo do teatro infantil. Julgo que não necessito inquirir as respectivas agremiações sobre se terá havido recurso a financiamento estatal.
Cumprimentos
Pedro Vilalão
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Palmilha Esquerda said...
Caro Rui Rio (atleta federado)
Apenas uma dúvida me avassala, qual a modalidade de atletismo que pratica? Corrida de fundo, fugas para a frente, salto em altura ou salta para longe daqui?
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Só uma nota, este tipo de resposta não cai nada bem vindo de uma colectividade que pretende ser apoiada por fundos públicos.
Pedro Vilalão
Boas ideias geram boas propostas e boas propostas apresentam-se a quem de direito, face to face por audiencia ou not face to face mas por carta registada. Espero que o tenham feito mutatis mutandis (com menos provocacao e mais objectividade), antes ou simultaneamente a esta postagem. Porque, com maior ou menor apoio, politiquices a parte ou nao, o vosso trabalho e serio e voces querem ser levados a serio, certo?
Continuem com o bom trabalho!
Jinhos.
Caros JJ e Pedro Vilalão
Não há dúvida quê o que falta realmente é reflectirmos em conjunto sobre estas e outras questões, numa atitude de séria discordância.
Antes de mais, e penso que ambos o sabem, o Teatro da Palmilha Dentada não é ainda subsidiado pelo estado. E digo ainda por que acho que o teatro tem que ser subsidiado, tal como outras coisas em Portugal. Seja a não produção de leite, seja ao abate da frota pesqueira, seja o ensino, a renda jovem ou a protecção civil. Eu apenas espero que o estado reconheça em breve a utilidade púbica do trabalho que vimos fazendo e que nos reconheça o direito de, tal como outros, sermos apoiados.
Os subsídios, tal como os benefícios fiscais, são formas do estado intervir na sociedade tendo orientar o seu crescimento, dar unidade a uma lógica de crescimento. A discussão central não é se a cultura deve ser apoiada mas sim de que forma deve ser apoiada para não desapareça por um lado e que por outro que seja capaz de gerar receitas capazes de a tornar razoavelmente independente.
Qualquer discussão sobre se a cultura deve deixar de ser subsidia em Portugal ou em qualquer parte do mundo, é completamente estéril e escusada. Da mesma forma que não se discute o fim dos apoios à saúde pública ou ao ensino, mesmo que privado.
Ao estado compete criar os meios, sejam estradas, escolas ou teatros, para que a sociedade civil possa funcionar e ser produtiva.
Essa obrigação passa, por exemplo pela efectiva criação de uma rede de teatros municipais que realmente funcione com verbas que permitam uma programação efectiva e séria para que realmente comece a funcionar em Portugal um mercado de produtos culturais.
Eu faço aquilo que sei fazer melhor, tive a sorte de poder escolher para trabalhar uma área que gosto, mesmo sabendo que o retorno financeiro é baixo. Mas uma coisa exijo do estado: respeito e honestidade no tratamento que tem comigo.
Que o senhor presidente da Câmara diga que não tem dinheiro para manter o Rivoli a funcionar nos moldes em que ele o pôs a funcionar eu até posso admitir. Apenas espero que não acabe de vez com o serviço publico que o teatro fazia entregando-o a uma única entidade e reduzindo mais ainda a possibilidade de alguém conseguir fazer um trabalho sério de produção cultural na cidade.
Que o senhor presidente se negue a dar apoios que verbalmente prometeu a uma entidade não posso de forma alguma aceitar. Principalmente quando joga jogos de ilusão politica tentando atirar a culpa do ocorrido para a oposição e para a própria entidade.
Se o senhor presidente acha que em democracia é válido seleccionar os subsídios que dá, e que ele sabe que são importantes para a cidade, em função do silencio ou não silencio das entidade, pois que o diga claramente para que depois possa ser avaliado por isso nas próximas eleições.
Não posso também aceitar que o presidente da minha câmara municipal venha para a televisão proferir disparates sobre assuntos que não domina e sobre os quais não pensou e não tem uma única estratégia.
Vir a público afirmar que não dará dinheiro aos grupos de teatro do Porto, mas que lhes alugará salas para que possam fazer o seu trabalho é pura demagogia. É desconhecer a realidade do Porto na área cultural e as especificidades da gestão cultural. Como facilmente provei a solução é absurdamente mais cara, mesmo com os preços praticados num teatro de gestão da própria câmara. Arranja-se me a câmara um teatro equipado e com a lotação de 200 lugares e creio que esse seria o único apoio que necessitaria do estado. Porque também eu acredito que a cultura tem obrigação de ter a preocupação da auto-sustentabilidade. Que se discutam as questões sem demagogias e principalmente com pessoas que saibam do que estão a falar.
Evidentemente que este pedido de apoio foi enviado ao senhor Presidente da Câmara via e-mail e que em breve contactarei a Câmara para saber se há já resposta ao meu pedido.
Até lá continuaremos a fazer o nosso trabalho baseado no humor que como com certeza sabem é uma poderosa arma de mudar mentalidades e hábitos enraizados, levando-nos a questionar a realidade que nos rodeia, basicamente a função da arte.
Ainda bem, Palmilha Esq! :) Jinhos.
Vai lá vai.... Até a barraca abana!
Sr.Vilalão: Se eu vir mais espectáculos que o senhor, sou mais culto? A quantos Shakespeares terei de assistir para me considerar inteligente? Será que Beckett é assim tão famoso porque escreveu mais palavras do que Bernardo Santareno? Será que o novo Musical da Floribella é melhor do que a próxima produção do João Garcia Miguel?
Estou confuso...tem uma calculadora consigo?
Caro Flanco,
Abomino o musical da Floribella, mas se 90% dos papás de Portugal querem levar os seus filhos a esse tipo de espectáculo vai recriminá-los? Sente-se superior?
O que não admito é que o estado financie grupos de teatro alternativo que tem o descaramento de fazer espectaculos para um grupo de amigos e vivem à custa do dinheiro do estado. Admito que essa companhia faça 1 de 5 espectaculos numa vertente mais alternativa, eventualmente com menos publico, mas que se submeta a uma lógica de mercado nos restantes.
Quanto à minha calculadora, continua a funcionar, é a que me permite fazer as contas no supermercado para nao gastar mais do que ganho.
Pedro Vilalão
Caro Palmilha Esquerda,
Concordamos em tudo relativamente à figura do projecto de presidente de câmara, cujo nome não repito.
Gostei especialmente desta frase: "Porque também eu acredito que a cultura tem obrigação de ter a preocupação da auto-sustentabilidade."
E com ela ganhou 3 presenças no v/ próximo espectáculo.
Cumprimentos
Pedro Vilalão
Parece-me que há aqui uma mistura de águas - cultura e entretenimento. Não é possível comparar Shakespeare com a Floribela, são coisas diferentes. Outra coisa ainda, é saber da qualidade da Floribela como entretenimento.
Não há mistura. A comparação é patética e foi feita para fazer notar que há coisas que pura e simplesmente não se podem juntar no mesmo pote. Não se pode falar de Economia a citar Tchekhov, tal como não se deve falar de Arte e mostrar cáculos de Samuelson.
E, se estivéssemos num país com dirigentes minimamente conscientes e verdadeiramente preocupados com os conceitos de cidadania e cultura, eu nunca teria necessitado de estabelecer comparações tão imbecis e despropoditadas para fazer a metáfora da demagogia política do Sr. Rui Rio.
Referia-me ao comentário do Pedro Vilalão
O que para alguns é entretenimento pode para outros ser cultura ! Atenção !
Paulo Coelho é literatura? Ficariamos anos a discutir rótulos.
Existe uma questão engraçada que vem no seguimento do senhor anônimo que mencionou Paulo Coelho...
Porque raio é que temos forçosamente de discutir rótulos e não a qualidade inerente a cada um dos rotulados?
O que para mim fica, é que existe um problema e ao invés de nos apercebermos do problema e nos juntarmos para o resolver, reflectimos em questões várias, discutindo qual a gravidade do problema, qual a razão do seu aparecimento e o que é que ele vai fazer etc... isso é importante, mas não agora!
Temos de “cerrar os punhos e ir para a frente”, temos de mostrar que existem coisas em que acreditamos e uma das coisas em que acreditamos todos, espero eu, é que sem cultura (teatro, literatura, música, cinema etc) nós estaremos a vedar aos que por aí venham o acesso a algo que é deles por direito!
É bom ganhar dinheiro, é ainda melhor poder gastá-lo, mas aquilo que aqui se discute é a viabilidade ou não de fazer cultura, quando na minha opinião esta questão não se coloca!
Ora, concordo Ricardo, a questão é mesmo o futuro. E investir no futuro, do meu ponto de vista, implica investir em actividades deficitárias, falo dos campos da investigação científica e da arte, são elas que trazem a evolução das sociedades e estão necessariamente ligadas. A reflexão sobre passado/presente/futuro pode ser deficitária no presente mas, já que é de contas que hoje se gosta de falar, ponha-se a questão em contas, quanto custará amanhã não ter investido hoje?
uma salva de palmas! quer dizer daqui a pouco estamos a falar de acabar com o investimento na saude a fundo perdido, quando o estado suporta o tratamento de um cancro qualquer... (exemplo extremo!)
Bem visto Ricardo L.
Eu acho que deviam acabar com o fundo de investigação para a ciência e medicina........Olha pensemos "para quê gastar tanto dinheiro a arranjar novos medicamentos para a malária se esta ainda por cima só afecta países pobres de outros continentes? É que é um desperdício de dinheiro.......Com ele conseguiamos, com certeza abrir no país mais umas quantas clínicas de cirurgia estética e assim (1) melhorar look dos nossos cidadãos (2)originar lucros que é o mais importante."
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