13/11/2006

No País Dos Chacais


No país dos chacais há um chacal pequenino cujo trabalho é ler as leis em busca de buracos. O processo é sempre o mesmo, quando sai uma nova lei o grande chacal diz ao chacal pequenino:
- Busca, busca!
E o chacal pequenino busca. E quando encontra um buraquinho o chacal pequenino abana a cauda todo contente e vai a correr ter com o grande chacal levando na boca o decreto de lei. E diz:
- Grunde Charuqerak! Haguue ungre bugagio! Zilhões Zilhões.
Invariavelmente o grande chacal dá-lhe um pontapé e ordena:
- Tira essa porcaria da boca e fala como deve ser que eu não percebo nada!
- Grande Chacal! Há um buraco! Milhões. Milhões!
Nessa altura o grande chacal começa também ele a abanar a cauda e em torno do chacal pequenino dança feliz:
- Milhões! Milhões! Milhões!
Nesse momento o chacal pequenino deita-se de patitas para o ar numa posição de humilde vassalagem e espera que o grande chacal se acalme.
Quando um grande chacal dança uma dança feliz em torno de um pequeno chacal e grita: - Milhões, milhões! – o melhor que um chacal pequenino pode fazer é deitar-se no chão, de patitas para o ar, numa posição de humilde vassalagem.
Quando finalmente o grande chacal se acalma ordena:
- Conta-me tudo, quero saber tudo.
- Ó grande chacal! É o IMT! Quando alguém compra uma casa ou outro imóvel paga o Imposto Municipal sobre a transmissão onerosa de Imóveis...
- Chupistas – interrompe o grande chacal – cambada de chupista, estado chupista que só quer o nosso dinheirinho.
- Pois é grande chacal – anui o chacal pequenino.
- Só servem para ficar com o que nós ganhamos.
- Mas isso vai mudar – continua o chacal pequenino - Quando nós emprestamos o nosso dinheirinho aos carneirinhos para eles comprarem as suas casinhas ...
- Eu gosto de carneirinhos – interrompe novamente o grande chacal com o olhar brilhante que reservamos para falar das coisas que nos são queridas – Eu gosto tanto dos carneirinhos. Tu gostas dos carneirinhos, chacal pequenino?
- Gosto, eu gosto muito – reponde com ar guloso o chacal pequenino.
- São tão bonitos a saltar alegremente por essas veredas fora, eu gosto especialmente dos carneirinhos clientes. – Conclui o grande chacal com um longo suspiro.
E o chacal pequenino continua com a explicação:
- Nós emprestamos-lhe o dinheiro e eles compram a casinhas. Ora se eles não pagam as prestações nós ficamos com as casinhas, e o IMT ...
- Não me digas que vamos ter que pagar o IMT quando lhes ficamos com as casas! - Rosna o grande chacal – Nós não temos culpa que a merda dos carneiros não saibam fazer contas, não resistam a uma publicidade bonita e que não aguentem a flutuações naturais das taxas de juros num mercado liberal. Merda de carneirada.
- Não grande chacal, estamos isentos. Quando ficamos com os imóveis dados como garantia de um empréstimo, não pagamos IMT.
- Muito bem, e onde é que estão os milhões?
- Grande chacal, vamos deixar de comprar imóveis, quando quisermos comprar novos balcões, ou criar empreendimentos turístico, só temos que dar um empréstimo igual ao valor da compra ao dono, ele não nos paga. Nós ficamos com o bem e não pagamos IMT, ele ficam com o dinheiro e não os impostos sobre a venda do bem, e o estado fica a chuchar no dedo. – Conclui triunfante o chacal pequenino.
- Chupistas bem feito. Milhões. – Exclama eufórico o grande chacal - Chacal pequenino, estou satisfeito contigo. Toma lá um biscoito. Desde a história do arrebonlamentos que não me fazias tão feliz
- Arredondamentos, é arredondamentos grande chacal.

E no fim do dia o grande chacal dorme feliz e feliz dorme o chacal pequenino.

Cabrões dos chacais.

4 comentários:

ricardo leite disse...

viva a metáfora e a alegoria chacolial:)

Lia Ferreira disse...

Ahahahah!
Adorei!

Joana disse...

Hilariante!!! Gostei muito. Parabéns! Jinhos.

fernando lucas disse...

essa coisa de fazer comparações dos erros humanos com os animais, sabemos muito bem que os chacais não fazem, nem por longe, aquilo que criticamos nos outros:
seu animal.
seu camelo.
seu urso.
seu porco.
sua vaca.
etc...