22/11/2006

Monólogo Interior Anterior

Quem ganha a vida a escrever e a escrever principalmente diálogos, aprende rapidamente a dominar a técnica. Porque a evolução dos diálogos tem uma lógica, e tudo o que é dito vem na sequencia de algo que foi dito atrás e do que foi pensado em função do que o interlocutor disse.

Na rua fico fascinado com pequenas frases que ouço. E não é só pelas pronúncias e pelas construções enigmáticas das frases. Aliás tenho o terrível hábito de repetir, por vezes demasiado alto, algumas das pérolas que vou ouvindo.

Mas o mais enriquecedor é ouvir o que não foi dito. Cada sentença que largamos tem em si uma série de pressupostos que aprendemos a adivinhar.

Rui Rio, a propósito do adiamento da decisão de entrega do Rivoli a privados para final deste mês, afirmou: “Fez-se um esforço para saber se as candidaturas poderiam acomodar ideias de outras. Não se consegui até à data e julgo que vai ser impossível. E não é má vontade dos candidatos. Apresentaram argumentos racionais.”

E eu daqui só posso construir um monólogo interior anterior:
“Precioso, eles não querem que eu quero, eles querem dar-me cabo da vida. Cuidado Precioso, eles fazem tudo para nos destruir, eles são o Inimigo. Um deles, um dos muitos, Precioso. Vivemos rodeados de inimigos. Eu sei Precioso, eles dão argumentos racionais. Alguém lhos ensinou. Como é que eles se atrevem a dar argumentos racionais, tenho que por uma clausula contra os argumentos racionais. E outra mais lapidar: ‘Quem não faz o que eu quero, têm má vontade’. É sempre assim Precioso, eles apenas existem para nos chatearem.”

1 comentário:

(in)tacto disse...

he he he
deliciosamente cómico :)